Psicóloga especializada em Fenomenologia Existencial, atuando no tratamento de depressão, ansiedade, fobias, angústia, vazio existencial, perda de sentido da vida, dificuldades afetivas e orientação à maternidade. Contato: psico.ludimilaribeiro
A série Adolescência tem gerado inúmeras discussões, provocando debates, olhares desconfortáveis e muitas reflexões, especialmente entre pais e mães. A trama, que expõe os bastidores de uma juventude conectada, inquieta e muitas vezes solitária, não passou despercebida – muito pelo contrário, acendeu alertas.
É compreensível que o impacto do desfecho da história cause apreensão. O que vemos ali é um retrato exagerado? Ou um espelho distorcido de algo que, em partes, já está presente em muitas realidades? A verdade é que, mesmo sendo uma ficção, Adolescência toca em pontos reais e urgentes: o quanto os adolescentes estão expostos a influências externas, o quanto se sentem (ou não) vistos, ouvidos e acompanhados, e o quanto os pais, muitas vezes, se sentem perdidos ao tentar conduzi-los em meio a tantas possibilidades, riscos e mudanças.
Em um mundo hiperconectado, tudo chega rápido – inclusive as crises.
Vivemos em uma era de excesso: excesso de informações, de opiniões, de estímulos, de comparações. Os adolescentes crescem com acesso irrestrito a conteúdos que, por vezes, eles ainda não têm maturidade emocional para interpretar. E não é porque “todo mundo está vendo” que é inofensivo. O que falta, muitas vezes, não é acesso – mas orientação.
Nesse contexto, é natural que muitos pais se perguntem: devo permitir esse tipo de conteúdo? Devo proibir? E se eu não tiver controle sobre o que meu filho consome? Essas dúvidas são legítimas, mas talvez a pergunta mais importante seja: meu filho tem estrutura para refletir sobre o que vê, sente e vive?
Porque, por mais que se tente controlar, o mundo entra pela tela — e pelas brechas que o silêncio e a ausência de diálogo deixam abertas.
Proibir ou permitir: esse é mesmo o centro da questão?
A reação imediata de muitos pais diante de conteúdos como os de Adolescência é o impulso de proteger, de limitar, de cortar. E sim, em alguns casos, estabelecer limites claros é necessário e saudável. No entanto, reduzir a educação ao binômio “proibir ou liberar” é limitar também as possibilidades de construção de pensamento crítico, empatia e autonomia.
Não se trata de fechar os olhos e deixar que os adolescentes vejam ou façam o que quiserem. Mas também não é apenas sobre dizer “não”. O verdadeiro desafio é ensinar a pensar, oferecer referências, abrir espaço para escuta e construção conjunta de sentido.
A pergunta muda de forma: como posso ser um ponto de apoio na formação do meu filho, para que ele saiba lidar com o que o mundo apresenta?
O desfecho da série como alerta (e não como sentença)
Ao final da série, somos confrontados com um desfecho difícil de assistir. Uma sucessão de silêncios, desencontros e faltas — de escuta, de afeto, de presença — culmina em consequências trágicas. E embora o roteiro possa ter sido escrito com traços dramáticos, ele carrega uma verdade incômoda: os adolescentes precisam de suporte emocional, e não apenas de regras.
Muitas situações poderiam ser evitadas — ou pelo menos conduzidas de outra forma — se houvesse espaço para conversa. Mas em um cotidiano corrido, cheio de cobranças, tarefas e pressões, quantos momentos de presença real têm acontecido entre pais e filhos?
Não é sobre controlar tudo, nem sobre saber todas as respostas. É sobre estar disponível, mesmo sem entender completamente. É sobre não deixar que o medo tome o lugar do vínculo.
Educar na incerteza: uma travessia possível (e necessária)
Não existe fórmula pronta para educar. Cada filho é único, cada família tem suas dinâmicas, suas dores, suas forças. E está tudo bem não saber tudo — o importante é não deixar o medo nos paralisar ou nos afastar.
Pais e mães não precisam ser especialistas em redes sociais ou entender todas as linguagens da nova geração. Mas podem — e devem — oferecer algo que nenhum algoritmo oferece: presença afetiva, escuta, limites saudáveis e abertura para o diálogo.
Isso inclui:
No fim, o que a série nos pede não é controle – é consciência
Adolescência pode ser vista como uma provocação. Não para assustar, mas para nos lembrar de que, por trás de cada jovem que aparenta estar bem, pode haver histórias, dúvidas e dores que só encontram espaço para existir quando há confiança e escuta.
Se você assistiu e se sentiu inquieto, talvez esse seja o convite: não para vigiar mais, mas para estar mais presente. Não para responder a tudo, mas para perguntar mais. Não para evitar todo sofrimento, mas para caminhar junto, mesmo nas incertezas.
Afinal, a adolescência não é só uma fase difícil – é também uma oportunidade preciosa de construir laços verdadeiros que podem fazer toda a diferença na vida de um filho.
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