À ordem

Ernani Spagnuolo

Advogado, Cientista Jurídico, Político e Social. Instagram: @uadvogado

Estão nos emburrecendo

O ano é 2025 no calendário gregoriano. O mês é janeiro, e todos já fizeram suas resoluções anuais, mesmo que não planejem cumpri-las.

 

Não é fácil dizer algo duro em uma época em que os sentimentos e as pessoas são mais sensíveis do que algodão. No entanto, é necessário dar minha contribuição.

 

Estão nos emburrecendo. E de forma proposital.

 

Embora o mundo funcione sob o Princípio Hermético da Polaridade, parece que todos os esforços estão sendo direcionados para anular essa força.

 

A polaridade é a ideia de que os opostos são idênticos, posicionados em extremos diferentes. Isso significa que todas as verdades são meias-verdades, pois os extremos, em última análise, se tocam.

 

Mas como compreender isso, se, diariamente, transferimos nossa capacidade de pensar para máquinas munidas de inteligência artificial?

 

O uso constante e inevitável da inteligência artificial vem emburrecendo a população, reduzindo nosso córtex pré-frontal e nos tornando dependentes de um conhecimento externo. Somos submetidos a ideias que nos são impostas, diariamente, goela abaixo.

 

Essa dependência está subvertendo a polaridade e enfraquecendo a capacidade das pessoas de reconhecer que até mesmo aqueles que pensam diferente de nós estão legitimamente pensando.

 

Pensar por si só, hoje, é um ato revolucionário – ao menos intelectualmente, já que, na política, não há espaço para o livre pensamento.

 

Estamos sempre pressionados a adotar um posicionamento: ser de direita, de esquerda ou ocupar o centro.

 

Como se divisões tão simplistas pudessem abarcar a complexidade das crenças sociais, políticas e culturais de um povo.

 

Os esquerdistas, por exemplo, sempre foram ingênuos ao acreditar que a solução de uma nação viria de um salvador ungido, representante de um sistema de governo (socialismo, comunismo etc.), que redimiria uma classe explorada por séculos – os trabalhadores.

 

Por outro lado, os que se dizem de direita acreditam que a salvação está na eleição de um líder conservador, capaz de trazer ordem à nação por meio de princípios rígidos de moral e bons costumes.

 

Mas isso nada tem a ver com o Princípio da Polaridade, criado por um sacerdote egípcio considerado o pai da alquimia, da magia e dos saberes ocultos.

 

A polarização política e social de hoje guarda mais semelhança com o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), descrito na literatura médica.

 

Essa polarização é emocional e deveria ser tratada como uma doença mental.

 

Quando começamos a substituir os sacerdotes e a eleger políticos como portadores de verdades absolutas, quando tudo são meias-verdades?

 

Quando passamos a defender fervorosamente pessoas que sequer se importam conosco e nos enxergam apenas como um rebanho a ser pastoreado?

 

No filme O Grande Ditador, Charles Chaplin parecia prever o futuro ao dizer:

 

Mais do que máquinas, nós precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, nós precisamos de carinho e bondade. O avião e o rádio nos aproximaram; a natureza dessas invenções grita em desespero pela bondade do homem. Grita pela irmandade universal e a unidade de todos nós”.

 

Meu admirado Charles, talvez, se soubesse que, 74 anos após o lançamento de seu filme, precisaríamos ser mais inteligentes para sermos carinhosos e bondosos, o senhor ficaria surpreso.

 

Estamos cada vez mais cegos, ignorantes e apáticos. Continuamos repetindo os ciclos que nos trouxeram até aqui, quando deveríamos estar quebrando essa roda.

 

Todos os dias, escancaram diante de nossos olhos corrupções, degradações e mentiras ditas e feitas, supostamente, em benefício da população. Mas o homem ignorante não acredita no que vê; acredita no que o ensinam a dizer.

 

Já é 2025, e precisamos lembrar:

 

No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito: ‘O reino de Deus está dentro do homem’, não de um homem nem de um grupo de homens, mas em todos os homens, em vocês! Vocês, as pessoas, têm o poder! O poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade. Vocês, as pessoas, têm o poder de fazer essa vida linda e livre, de fazer dessa vida uma aventura maravilhosa.

 

Então, em nome da democracia, vamos usar esse poder, vamos todos nos juntar! Vamos lutar por um mundo novo. Um mundo decente, que vai dar ao homem a chance de trabalhar, que vai dar um futuro à juventude e segurança aos idosos.

 

Prometendo isso, os cruéis vieram ao poder. Mas eles mentiram, não cumpriram suas promessas. Eles nunca cumprirão. Ditadores libertam a si mesmos, mas escravizam as pessoas.”

 

Hoje sonhei com Chaplin. Mesmo sem tê-lo conhecido e tendo ouvido suas palavras anos depois de o cinema deixar de ser mudo, acordei pensando que a sociedade se torna muda à medida que aceita discursos populistas como verdades absolutas.

 

Não seja ignorante. Desconfie sempre que disserem que algo é para o seu bem. Normalmente, nossos representantes pensam apenas no próprio bem.

 

A verdadeira liberdade não está em seguir líderes cegamente, mas em recuperar a capacidade de pensar por conta própria, desconfiar e, acima de tudo, questionar o que parece manipulação.

 

Perguntar pode ofender, mas é a única forma de evitar que tirem o que há de mais valioso: sua mente e sua liberdade.

 

Nesse teatro de ilusões, deixe de ser espectador e torne-se aquele que desmascara a peça.

 

Afinal, a maior e mais pacífica revolução que podemos fazer é despertar e questionar. Antes que seja tarde demais.

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