Era uma vez

Donaldo Amaro

Donaldo Amaro é jornalista e escritor, sendo autor de livros e de vários artigos. Foi diretor do tabloide Green Card News e, atualmente, é diretor da revista eletrônica Sou Patos.

História de um milagre que ocorria em minha casa

Há muito residi numa parte pouco habitada da cidade. Era considerada até inadequada para se viver. Nascentes jorravam água em vários pontos. Não havia necessidade de chover torrencialmente para que houvesse invasão de água nas poucas residências.

 

Aquela vivência já era para mim uma verdadeira aventura. Adaptei-me fácil e convivia com sapos, rãs, cobras, préas e, também, com uma infinidade de pássaros que habitavam aquele pedaço de terra que hoje é região nobre e central da cidade. Grande parte da minha infância e toda a adolescência foram vividas naquele recanto.

 

Naquela área, parte já era de uma agremiação esportiva. E ao lado daquele estádio, existia um poço artesiano que funcionava durante o dia e, também, um período da noite. Quando era ligado o motor, saía grande quantidade de água por um cano de várias polegadas, localizado no fundo do prédio. Era uma diversão agradável durante o verão. Morava a uns quinhentos metros dali.

 

Foi naquela época que sempre ocorria, durante a noite, um milagre em minha casa.

 

Era comum, nas cabeceiras das camas, dependurar um terço, para enfeite ou também para uma oração de emergência, era só puxá-lo. A cabeceira da cama de minha mãe era enfeitada por um bonito terço, dependurado, semiaberto.

 

Não raramente, à noite, aquele terço batia compassadamente na madeira da cama. Ficávamos alucinados e, em seguida, caíamos de joelhos no piso do quarto e rezávamos para a alma do Padre Eustáquio. Até hoje, não sei por que era o Padre Eustáquio o privilegiado em receber as orações.

 

A minha curiosidade pelo fenômeno era espantosa. Sempre me aproximava do terço milagroso e via as batidas dele na cama num ritmo compassado, contínuo. Rezávamos um tempo que parecia interminável. Depois, ele, o terço, silenciava.

 

Anos depois, a minha mãe, apesar de ser a administradora do milagre, descobriu que quando era ligado o poço artesiano, as batidas do motor faziam com que o terço batesse na cabeceira da cama…

 

 

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