Entre o Ser e o Sentir

Ludimila Ribeiro

Psicóloga especializada em Fenomenologia Existencial, atuando no tratamento de depressão, ansiedade, fobias, angústia, vazio existencial, perda de sentido da vida, dificuldades afetivas e orientação à maternidade. Contato: psico.ludimilaribeiro

O que realmente está por trás das compulsões?

Vivemos em um tempo que nos impulsiona ao consumo, ao prazer imediato e à necessidade constante de controle. Entre metas a serem alcançadas e a promessa de satisfação instantânea, muitos comportamentos passam despercebidos até que, sem que a pessoa perceba, se tornam mais intensos, difíceis de interromper e carregados de sofrimento. O que antes era um hábito inofensivo pode se transformar em uma repetição incontrolável, acompanhada de culpa, angústia e frustração. Essas são as compulsões, fenômenos que vão além do desejo e nos convidam a olhar com mais atenção para nossa experiência emocional.

 

O que são as compulsões?

 

Compulsões são comportamentos repetitivos e impulsivos realizados para aliviar uma tensão interna, uma angústia ou uma ansiedade que parecem insuportáveis. Diferente de um hábito comum ou de uma escolha consciente, a compulsão não traz liberdade, mas urgência e um forte sentimento de perda de controle. Quem vive esse ciclo sabe que ele não se trata apenas de um “exagero” ou de “falta de força de vontade”, mas de algo que escapa à razão e se impõe como uma necessidade impossível de ignorar.

 

Podem se manifestar de diversas formas, como:

 

          •         Comer exageradamente sem fome real (compulsão alimentar);

          •         Gastar impulsivamente sem necessidade (compulsão por compras);

          •         Trabalhar excessivamente sem conseguir parar (workaholism);

          •         Praticar exercícios de maneira obsessiva (vigorexia);

          •         Repetir determinados rituais para aliviar ansiedade (compulsões do TOC).

 

Algumas dessas compulsões podem até ser incentivadas socialmente, como o excesso de trabalho ou a busca incessante por produtividade. No entanto, qualquer comportamento que se torna uma fuga do sofrimento, em vez de uma escolha genuína, pode carregar um grande peso emocional e nos afastar do que realmente precisamos enfrentar.

 

O que realmente está por trás da compulsão?

 

Por trás de cada compulsão há uma história que precisa ser escutada. Esses comportamentos não surgem do nada; eles costumam ser respostas internas ao lidar com emoções difíceis como tristeza, solidão, frustração, medo ou um profundo sentimento de vazio. Para muitas pessoas, a compulsão funciona como um alívio temporário, uma tentativa de preencher um espaço interno que parece insuportável.

 

O problema é que esse alívio dura pouco e logo dá lugar à culpa, reiniciando o ciclo. Não é só sobre o comportamento em si, mas sobre o que ele tenta esconder. Muitas compulsões são, na verdade, formas de evitar o contato com a realidade da nossa condição humana: a incerteza, a vulnerabilidade, a impossibilidade de controlar tudo à nossa volta. Diante disso, a busca por alívio imediato se torna uma armadilha.

 

O ser humano tem uma necessidade profunda de sentido e quando essa necessidade não é atendida, muitas vezes buscamos compensações superficiais que nunca são suficientes. A compulsão, nesse contexto, pode ser um reflexo dessa falta, um sintoma de que algo essencial está ausente.

 

Diante da compulsão, a primeira reação costuma ser tentar ignorá-la ou suprimi-la com mais autocontrole. Mas esse caminho raramente funciona. Quanto mais tentamos evitar um impulso, mais força ele parece ganhar.

 

O verdadeiro caminho não é apenas lutar contra a compulsão, mas compreender o que ela representa. O que estou tentando evitar? Que emoções estão escondidas por trás desse comportamento? O que essa compulsão está tentando me dizer?

 

O sofrimento causado pelas compulsões não se resolve apenas com força de vontade. Ele precisa ser compreendido e cuidado de forma mais profunda, pois não basta simplesmente “parar” com um comportamento — é preciso entender o que ele está mascarando e permitir-se entrar em contato com isso, por mais difícil que pareça.

 

Refletir sobre o que está por trás da compulsão é um passo importante, mas o enfrentamento desse processo pode ser desafiador quando se está sozinho. O acompanhamento terapêutico pode ajudar a compreender os padrões que sustentam esse comportamento e a encontrar caminhos mais saudáveis para lidar com as angústias que o impulsionam.

 

Se a compulsão tem sido um refúgio para evitar o contato com algo mais profundo, talvez seja hora de olhar para isso com mais atenção — e, quem sabe, escolher não atravessar esse processo sozinho.

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