Donaldo Amaro é jornalista e escritor, sendo autor de livros e de vários artigos. Foi diretor do tabloide Green Card News e, atualmente, é diretor da revista eletrônica Sou Patos.
A procissão deslanchava lentamente. Em duas filas desorganizadas pela avenida, as velas eram as atrações maiores, mesmo entre os hinos… “ave, ave, ave Maria… ave, ave, ave Maria…”. Sentia complexo de culpa em participar de uma procissão em que pouco acreditava. Mas gostava.
Era difícil manter-me numa linha religiosa, no entanto, se a retirasse naquela época, quatorze anos, seria, normalmente, uma revolta de idade.
Amigos, colegas, imaginavam-me um cumpridor, em excesso, dos deveres religiosos. Sem entender as opiniões, naquela idade, fui a uma igreja para confessar:
– Padre, hoje é minha primeira confissão.
Inicialmente, em silêncio de reprovação do coordenador da confissão, quando soube ser a primeira, com aquela idade.
– A primeira?
Senti o orgulho machucado e a resposta foi sutil:
– Não! É a última!
E seria? As orações, os hinos… Isso faria uma imensa falta. E a procissão? “… Os três pastorzinhos cercados de luz…” E o terço? Discretamente, colocava-o no bolso da calça e rezava em silêncio as Ave Marias e os Pai Nossos.
Nessas horas, nada melhor era do que refugiar no silêncio. A angústia, já amiga antiga, dava-se bem com o silêncio. E no desajuste normal da idade, sentia que, na religião, o conforto espiritual seria uma vitória do ego.
E a procissão continuava sua caminhada. O desacerto era o mesmo desde o princípio. O hino cantado no início era totalmente diferente do que era cantado no meio e no fim da procissão.
Já no término, sentia, instantaneamente, a nostalgia do percurso que estava concluído.
Se participasse de outra religião seria um fracasso. E a procissão? As barracas? Os leilões e os jogos de maçãs?
Quatorze anos! Procurava momentos de adulto. Procurava emoções para viver. Nada! Pouca diferença fazia da infância para a adolescência. Não uma insegurança e sim a mesma dúvida existencial. Dias comuns, meses comuns.
Amor? Amor! Surgia tão rápido como desaparecia. Amei. Houve a primeira, a segunda, a oitava… A primeira realmente, deixou uma marca forte. Encontros desastrosos em cinemas, clubes, praças. Amor sem esperança, puro no palavreado e inexistente para o amanhã. Será que amei? Os desencontros do primeiro devem ter tido influência nos outros.
Cada caso, um caso. Amores diferentes, tendo todos eles um final feliz: despedidas amáveis e a expectativa de um encontro no futuro, que nunca aconteceu.
Mão na mão e não chegava nunca olhos nos olhos. A imediata desconfiança de ambos sempre foi triste. Às vezes, tinha vontade de confidenciar o que desejava dar e que necessitava receber. Pura ilusão de um enamorado! Olhava-a, uma desconhecida estranha e perguntava-me:
– Por que ela?
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