Advogado, Cientista Jurídico, Político e Social. Instagram: @uadvogado
O assunto que dominou as redes sociais recentemente revelou a fragilidade dos julgamentos no tribunal virtual. Tudo começou com um vídeo em que uma passageira se recusava a trocar de lugar com uma criança que “queria sentar na janela”.
Baseando-se apenas no vídeo que viralizou, era fácil escolher um lado. A mulher que não cedeu o assento foi imediatamente exaltada como um símbolo de resistência ao “mimimi” que, segundo alguns, aflige nossa sociedade. Contudo, após a euforia inicial, o caso demonstra algo que insisto em reafirmar: é essencial ter cuidado com pré-julgamentos.
Quando o vídeo viralizou, muitos tomaram partido rapidamente: afinal, ninguém é obrigado a ceder às birras de uma criança que não foi ensinada a lidar com frustrações. No entanto, após o furor nas redes sociais e uma análise mais aprofundada, ficou evidente que os julgamentos precipitados foram baseados em uma única perspectiva. O vídeo — unilateral e desprovido de contexto — carecia de uma abordagem mais criteriosa.
Após o “furacão” midiático, vários sites de notícias investigaram o caso e trouxeram informações relevantes. Apesar de menos impactantes do que o vídeo original, essas informações são cruciais para compreender o ocorrido.
A principal revelação foi que o vídeo não foi gravado pela mãe da criança nem por alguém de sua família. Segundo vários portais de notícias, quem filmou foi uma terceira pessoa, estranha à situação, e que usava uma camiseta de uma ONG cujo nome não foi divulgado.
E o que isso diz sobre nossa sociedade atual? Por um lado, a atitude da mulher que recusou a troca encontrou milhões de apoiadores, tornando-a uma celebridade instantânea.
Além de ganhar seguidores, ela foi contratada para campanhas publicitárias e merchandising.
Isso evidencia que resistir a demandas consideradas minoritárias ou ilegítimas ainda tem forte apoio na população brasileira. Contudo, esse mesmo apoio é muitas vezes ausente em questões que envolvem o bem comum.
Por outro lado, a tentativa de “lacrar” na internet — ao que tudo indica, por parte de uma pessoa alheia ao conflito — resultou em um tiro pela culatra. Além de constranger a família da criança, o vídeo fortaleceu a imagem de quem estava dentro da lei e expôs as fragilidades do vitimismo como estratégia de promoção pessoal.
Em entrevista ao portal Leo Dias, a mãe da criança, identificada como Aline, esclareceu: “Quero deixar claro que, em nenhum momento, eu pedi ou me dirigi à Jeniffer. Ela sabe disso. Não fui eu quem gravou o vídeo; ninguém da família gravou”. A mãe também ressaltou que sua filha, como qualquer criança de 4 anos, pode se comportar de forma inadequada em algumas situações, mas que a situação foi corrigida no momento.
Juridicamente, a Portaria Nº 13.065/SAS da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determina que passageiros menores de 16 anos que viajam acompanhados devem ser acomodados ao lado de um adulto responsável. A escolha prévia de assentos é permitida mediante pagamento, mas a legislação não obriga a troca de assentos por razões alheias ao regulamento.
O caso demonstra que toda história tem pelo menos três lados: o de quem acusa, o de quem defende e a verdade.
Para evitar injustiças, é fundamental buscar os fatos com responsabilidade, empatia e imparcialidade. Este episódio não só ressalta a importância de não julgar apressadamente, mas também nos convida a refletir sobre como as redes sociais amplificam conflitos cotidianos.
*Inspiração para o texto veio da publicação:
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